Um recorte da minha vida – Ricardo Murça
Introdução
Não passa um mês em que alguém deixe de me perguntar quem sou eu.
Sempre que vou responder, penso bem se devolvo a pergunta com uma pergunta:
– Você não pesquisou sobre o seu terapeuta?
Ou se sou direto e digo o óbvio:
– Sou Ricardo Murça, tenho 46 anos, nascido em Santos, pai de 3 filhos, casado…
Mas percebi que a maior parte das pessoas se interessam nem tanto pela minha obra, mas sim por quem sou eu na sociedade, no mercado, por que me coloco a ajudar pessoas se nem mesmo parece que tenho um passado ou, talvez por me verem com alguma “deficiência” ou “necessidade” possam entender que não poderia ter assim, tanto sucesso, dadas as minhas aparentes dificuldades.
A resposta é que nem eu mesmo sei quem sou, afinal, desde que me conheço e me entendo como gente, me proponho a evoluir, a mudar e melhorar como pessoa.
O Ricardo de hoje eu enxergo bem diferente daquele que teve Síndrome de Guillain-Barré e mais diferente ainda do estudante de farmácia de vinte e dois anos.
Menos ainda me comparo ou me reconheço como o estudante de quinze, totalmente perdido no mundo ou o garoto que passou a infância com tanta insegurança e medo que até hoje sonha com os flashes das bobagens que fez e das broncas que levou.
Se me perguntassem do que estou cansado, responderia que é de tanto mudar.
Devo ter nascido com um ímpeto diligente descalibrado em relação à minha autocrítica, pois me cobro demais e ao mesmo tempo que enxergo mudanças no tempo, acho que nunca é demais e me empenho na evolução, no conhecimento e em fazer algo realmente edificante.
Conheci, nesse mundo, pessoas, empresas e possibilidades realmente instigantes de fazer coisas grandiosas, magníficas e de ajudar pessoas a terem uma vida melhor, diminuir diferenças sociais e realmente impetrarem um crescimento individual e coletivo consistente em suas vidas. Mas, em certo momento, ao entender o negócio e buscar me empenhar em tornar aquela máquina de moer carne em algo diferente e realmente agregador para a vida das pessoas, me deparava com um alguém que estava ali para garantir que aquilo continuasse como era e que o objetivo era único: o lucro, o dinheiro.
Na outra ponta da mesma corda estava eu me recusando a trabalhar em empresas que contratavam por obrigação, que não desejavam evoluir, que não tinham objetivos ou propósito e ainda leiloavam candidatos pelo valor do salário que topavam receber. Ou seja, o dinheiro pesava.
Essa minha relação com o dinheiro é ainda hoje matéria de autoanálise e entendimento difícil, nem tanto do ponto de vista da coisa em si, mas sim social e materialista que envolve a relação do homem com o dinheiro.
Apesar de cansado das mudanças, é isso o que faço no dia a dia. Mudar, melhorar, evoluir, crescer, pensar em possibilidades, ajudar a enxergar o mundo e se enxergar através do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal. Estou tão envolvido nisso e acredito tanto na possibilidade do ser humano fazer mais por si próprio que tenho investido tempo e dinheiro em uma mudança radical de carreira.
Às vezes me vejo desanimado e a disciplina me move. Às vezes falha a disciplina e a motivação se sobressai.
Apesar de lutar contra o estrese ele é meu vizinho de porta e a ansiedade mora comigo. Encontro ambos todos os dias quando saio para minha sessão de fisioterapia, quando não tenho grana para a psicologia que tanto me ajuda, quando não consigo uma vaga de emprego ou quando consigo e a empresa fecha e não me paga. Não basta haver dificuldade com a vida, a própria vida dificulta a relação dela mesma com a gente.
Se você olhar pra mim, contudo, vai me ver animado e feliz. Dificilmente vai me ver mau humorado. Digo, mais mal humorado do que sou ou do que as pessoas pensam que sou. Sempre foi fácil encontrar muita gente que dizia me odiar só de olhar pra mim e virou minha amiga ou amigo. Sou realmente centrado em mim, nos meus pensamentos e sério ao ponto de me introverter e mal olhar para o lado.
Contudo, é o contato humano sincero e genuíno que move minha vida. Pessoas que conversam assuntos bacanas, bobagens inteligentes, que sabem rir e brincar de modo respeitoso, mas sem perder a acidez necessária ao riso rasgado da mesa de bar e da amizade.
Bem, antes que na introdução eu conte tudo, te peço que fique comigo e conheça uma história que pode servir de exemplo pra muita gente.
Um abraço, boa leitura.
CAPÍTULO I – O RECORTE
Nomeei o capítulo de recorte para contextualizar o que vocês vão ler aqui.
Não há como escrever minha vida de forma detalhada em todos os momentos. Primeiro por que não me lembro e segundo por que nem tudo o que eu escrevi é de interesse do público ou deve ser descrito.
Desse modo, vou falar dos pontos de impacto e de informações que não tragam ultraje à qualquer pessoa ou honra, é apenas uma descrição ou constatação.
Também não vou florear, adjetivar ou deixar o feio bonito e nem o bonito feio, dar minha opinião ou coisas do tipo. Não é o objetivo do livro. Aqui p intuito é ser descritivo e passar as minhas impressões sobre a vida e como eu reagia.
O RICARDO (RECORTADO)
Nasci em Santos/SP em mil novecentos e setenta e oito no Hospital Guilherme Álvaro, época em que não existia o SUS como é hoje e, ali, meus pais trabalhavam. Meu pai motorista e minha mãe agente administrativo.
Conta a história que eu nasci em uma casa de esquina entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Campos Melo, no bairro do Macuco e que hoje, se não me falha a memória, é uma casa de tintas, totalmente descaracterizada da época da minha vida à este mundo.
Minhas lembranças remontam ao apartamento mil e cinco do edifício Brumar da Avenida Presidente Wilson, bairro da Pompéia. Um prédio de frente para a praia que era ladeado com o prédio dos meus avós, o Edifício Cordilheiras.
Se bem me lembro, o apartamento nessa época era de um quarto, lateral e tinha um terraço. Meu pai trabalhava de madrugada ou de noite e de vez em quando alguns amigos dos meus pais vinham em casa. Minha mãe também trabalhava.
Lembro de ir diariamente para a casa da minha avó e de ela e meu avô me levarem à praia pela manhã para brincar com meu amigo Nicola Jr. e sua irmã Ariele. Depois, de tarde, eu ia para a escola e minha mãe me buscava.
Almoços aos domingos, sair para brincar de noite no parquinho da esquina do canal um com a praia, meu pai jogar bola com meu avô aos sábados na praia, levar meu bisavô para a casa dele são exemplos de boas lembranças.
A pior lembrança e a que me vem mais rapidamente à cabeça é a das brigas derivadas do alcoolismo de um ente familiar. Optei por não dizer de quem, não é o objetivo aqui imputar culta ou me vitimizar e sim, contar a história, de forma resumida.
Talvez mais adiante eu comente.
O DESEQUILÍBRIO
À medida que crescemos, vamos tomando entendimento das coisas que nos circundavam na infância.
Certos entendimentos só se firmaram e se fizeram presentes e compreendidos depois de adulto, quando fiz terapia e percebi que, apesar das raízes da minha criação terem sido regadas pelos meus pais e familiares e eu ser uma muda tirada de seus galhos, elas são minhas e não deles, então não preciso ser igual à eles, mas devo respeitar. Não cabe aqui sequer a concordância ou culpa-los por algo. Não se trata disso.
Nomeei o capítulo assim por que me lembro que a partir de uns cinco anos, talvez pouco mais ou menos, comecei a prestar atenção em acontecimentos familiares.
Minha casa tinha uma tensão latente e eu sentia isso. Os gritos, o barulho, as brigas e a tensão me faziam muito mal e me lembro de sons ainda hoje. Boa parte dessa energia, se posso chamar assim, era derivada das brigas por causa da bebida. Havia também a presença do cigarro, me lembro. Não sei se sempre, mas me lembro do cheiro do cigarro.
Em relação à referências, tenho poucas do meu pai, mais do meu avô e bisavô como exemplos masculinos.
Minha mãe era o oposto de minha avó. Pense nos antônimos para cada adjetivo e imagine uma avó que falava baixo, conversava, não batia, explicava, era paciente e equilibrada.
Nossa vida não devia ser fácil e deve ter se agravado com a gravidez do meu irmão Fábio, que fora inesperada. Há de se evidenciar que apesar de ser inesperada, ou seja, em um momento que não havia planejamento ou o foco em si, fora desejada e jamais houve o pensamento de interrupção.
Sim, voltemos.
Com o nascimento inesperado (não indesejado) do meu irmão, minha avó parou de cuidar de mim e minha mãe teve que largar o trabalho, o que reduziu a renda e ampliou da despesa.
Mudamos do mil e cinco para o novecentos e seis, de dois quartos. Me lembro de cupins na janela do meu quarto e baratas na casa. Ainda lembro do dia que minha mãe rasgou o dedo num caco da tigela de louça e quando meu irmão se queimou com um mingau de aveia quente que estava disposto num prato. Ambos os episódios me marcaram pela forma desajustada como aconteceram ou como foram resolvidos.
A vida ali não era ruim. Na verdade, não sei ao certo, mas sei que passei a apanhar mais depois que meu irmão nasceu. Eu aprontava mais e minha educação foi moldada no chinelo, mas o que eu mais temia não era apanhar e sim os gritos e broncas que eu ouvia cotidianamente. Trocaria, hoje, um grito por dez chineladas, se pudesse.
MUDANÇAS
Em certa época houve uma série de mudanças na família. Mudanças de casa mesmo.
Minha avó foi para um grande apartamento na Avenida Washington Luiz, ao lado do Clube XV e nós permanecemos ali no novecentos e seis.
Tempos depois passamos a procurar apartamentos. Me lembro de visitar alguns e o que eu mais havia gostado era o da Rua Oswaldo Cruz, na segunda quadra. De repente fiquei sabendo que nos mudaríamos para o prédio da Dona Wanda, a matriarca da família Alonso, do marido da minha prima Fátima que havia sido criada pela minha avó e era afilhada também da minha avó e também sobrinha dela. Ou seja, prima em segundo grau da minha mãe.
Era um apartamento lindo, reformado, acarpetado, com madeira nas paredes e um visual moderno. Tinha banheira, papel de parede, copa e o teto do meu quarto era todo especial, em cerejeira e com spot’s de iluminação.
Os móveis da sala e do meu quarto eram novos, comprados pelo meu avô, Mario e minha avó Stefanya.
O apartamento também foi comprado por eles que queriam os netos mais perto e que tivéssemos qualidade de vida indo à praia e morando de frente para o mar.
E lá estávamos nós, uma família pobre e de baixa renda num dos endereços mais nobres de Santos: a praia do Gonzaga, num apartamento de frente para o mar. Isso me sua estranho até hoje.
Imagine que dos meus vizinhos, meninos de mesma idade e que brincavam comigo eu era o único que estudava em escola pública. Todas as mães trabalhavam, exceto a minha, os pais ganhavam bem e tinham carro, as crianças estudavam inglês, faziam esportes, tinham ao menos um tênis bacana e roupas para variar
Nós, tínhamos pouco e isso nos colocava em contraste com os vizinhos, o que me colocava em ar de inferioridade, era colocado de lado, não era chamado para ir a alguns lugares, os amigos iam ao cinema e eu não, comiam em lanchonetes e eu não. Era difícil e o que eu sempre ouvia é: não tenho dinheiro ou qualquer outra desculpa.
Desses episódios, me lembro de ter muita vontade de comer na lanchonete Sumatra e ter passado a infância sem comer lá. Passei muita vontade.
Algum tempo mais para frente, quando eu tinha oito anos, minha avó veio para a minha casa para poder reformar o apartamento dela. Minha mãe ficou muito brava por que não queria minha avó em nossa casa e, talvez o leitor pela posição de minha mãe, entenda que elas não se davam muito bem. Foram meses difíceis.
Algum tempo depois o meu avô resolveu reformar o nosso apartamento e, sinceramente, não me esquivando da opinião, foi a maior besteira que fizeram. O apartamento ficou terrível, além de todos os entraves da convivência na casa da minha avó que vivia num prédio de bacanas e teria que conviver com coisas que ela não gostava.
Um parênteses meu: minha avó era metida a besta, metida a grã-fina e isso enchia o saco as vezes. Por mais que eu a ame demais até hoje, este ponto me incomodava. Bem, isso incomodava também minha mãe e meu pai.
Durante estes meses de convivência alguns membros da família não se comportaram com gratidão, digamos assim, pelo acolhimento e melhoria da casa e a corda se rompeu.
Vale destacar para aqueles que não conviveram com o alcoolismo que a doença ou o problema que ela causa, a doença ou o vício, dependem da pessoa que o desenvolve. Alguns só bebem em casa e batem na esposa, outros não são violentos, mas maltratam sua própria saúde, outros dirigem e matam pessoas, outros brigam, portam armas, enfim. Nesse contexto, alguns alcoólatras bebem em locais públicos, chegam caindo, falam bobagens, brincam com mulheres alheias ao casamento, discutem fácil com outras pessoas, caem na rua, devem em bares, bebem todo o dinheiro, não ligam para a família e acabam causando constrangimentos aos filhos e à esposa. Eu estava nesse grupo dos constrangidos.
CONSTRANGIMENTOS
Bem, eu já exemplifiquei como a convivência de crianças de classes sociais diferentes pode ser difícil.
E era.
Conversas, nível cultural, nível de aprendizado, inglês, esportes, a segurança pessoal, a autoestima, as amizades e o que passamos a conhecer sobre o mundo quando destoa de um grupo para o outro.
Para completar, nessa época, eu não podia brincar ou fazer o que os demais amigos faziam. Tinha horários rígidos, recebia broncas na frente de todos e, quando eu me atrasava para voltar, afinal estava brincando e me divertindo, havia gritos me chamando pela janela. Não eram gritos isolados ou altos, eram berros completamente enlouquecidos pelo fato de o filho ter esquecido a hora por estar brincando. Talvez a pessoa não imaginasse como isso me constrangia e me afastava da convivência familiar.
Em casa o desequilíbrio cresceu. Havia falta de controle, brigas e tensão constante e crescente e esses episódios passaram afazer parte da nossa vida.
As brigas entre mim e meu irmão que eram derivadas da convivência normal de irmãos virava um motivo para nos sentirmos inimigos, afinal a técnica era nos afastar, sem explicação ou mediação. Crescemos afastados e se não fosse nossa própria vontade de permanecermos juntos, estaríamos assim até hoje.
Minha vontade era de me manter fora de casa o maior tempo possível.
A ESCOLA , OS ESPORTES E OS LIVROS
Estudei em escola pública todo o meu ensino primário. Minha escola, na época, era uma das melhores e peguei um momento em que tínhamos merenda boa, mas a maior parte do tempo a merenda era insipiente.
De qualquer forma, na parte da tarde, havia atividades como coral, educação física, atletismo, vôlei e biblioteca. Eu fazia tudo, mas o que era mais perene era o atletismo e a biblioteca.
Então, aos poucos, fui me chegando na biblioteca e passei a ajudar e, em troca, recebia livros indicados para a leitura. Além de ler muito, peguei gosto e aprendi como ler melhor e mais rápido com a bibliotecária o que me ajudou no desempenho global da escola com o passar do tempo. Além disso, eu podia comer na cantina de tarde.
Também fomos matriculados na Ginástica Olímpica, meu irmão e eu. Eu segui bem, meu irmão largou, tempos depois. Cheguei à equipe de competição, fui ao paulista, ao brasileiro e ao sul americano. Treinava de noite.
Então, nessa época, pude me afastar um pouco de casa, afinal estudava pela manhã, de tarde biblioteca, passava em casa, pegava as coisas e treino.
DINHEIRO
Contei sobre o alcoolismo, sobre o dinheiro regrado e pouco, mas não contei que sempre houve dinheiro para pagar os serviços dos pais e mães de santo que ajudavam nossa família a nos livrar do alcoolismo. Foram anos gastando dinheiro com isso, com ônibus para a periferia e frequentando centros espíritas e de umbanda até tarde da noite e isso me cansou demais.
Se ainda tivesse adiantado…
ADOLESCÊNCIA
Começa a adolescência e os ânimos se aceleram. Na minha pré adolescência falece meu bisavô, que estremece ânimos pouco estruturados. Pouco tempo depois, se vai o meu avô que parece ter levado consigo o pilar de sustentação da família.
Logo após o falecimento do meu avô fui morar com a minha avó. Foi quase o céu, afinal ela também era de pegar no pé e imaginar coisas, como dizer que eu me drogava cotidianamente, o que não é verdade e isso minava minha paciência.
O alcoolismo piorou e de forma atabalhoada uma separação ocorreu em minha casa e nós, meu irmão e eu, convivíamos com isso todos os dias.
Aqui, nessa época, eu me incomodava comigo, com minha família, com a estabilidade e já percebia que viver fugindo de casa e dos problemas não era a solução, mas, sinceramente, não sabia em quem confiar minha saúde mental.
Meus estudos, leitura e disponibilidade para trabalhar e resolver problemas foram reconhecidos nos últimos anos de escola e passei de ajudante do grêmio estudantil a diretor. Também virei um aluno de confiança da diretora e isso aconteceu como uma virada abrupta, pois fui várias vezes ameaçado de expulsão.
Mas os livros de filosofia, leituras dirigidas e a ideia de autoconhecimento começaram a brotar em mim. Meu técnico de ginástica conversava comigo, passei a apreciar pessoas equilibradas, me interessava por conversas com mais conteúdo, me afastei da televisão e da violência pouco a pouco e comecei a trabalhar em uma drogaria com dezesseis anos.
Tempos e anos antes eu já trabalhava em floricultura, já havia vendido revistinhas, tomado conta de carro, lavado carro e ajudado a fazer mudanças, além de pegar bicos onde me queriam.
Outros acontecimentos na família voltaram a me estremecer psicologicamente e o alcoolismo nos levou a internações, problemas e brigas.
Para completar eu arrumei uma namorada e, tempos depois, uma filha que hoje tem 28 anos.
Mas nesse vai e vem que não foi nem um pouco linear, passei por empregos, trabalhei na feira, vendia semijóias, caixas para joias, relógios, contrabando, instalava som de carro até que um dia me aparece um rapaz para instalar o som do carro e, quando conversamos, descobri que sua mãe, que era farmacêutica, tinha uma farmácia perto da praia e perto da minha casa, no bairro da Pompéia. Ele me disse que precisavam de balconista e isso era o que eu sabia fazer.
Conheci a Dra. e fui contratado. Aprendi muito, vendi muito, ganhei dinheiro, estudei, minha filha nasceu, aprendi sobre desenvolvimento pessoal e passei a estudar neurolinguística de forma rudimentar.
Fui para São Paulo e descobri um comércio bom de pulseiras de relógios no atacado, além de caixas de joias. Fiz um investimento alto e ganhei muito dinheiro.
O fato de ganhar dinheiro e comprar uma moto zero para trabalhar, creio, desenvolveu a inveja do filho da farmacêutica que me acusou de roubo, pois sempre havia falta de dinheiro no caixa. Paguei o pato e tempos depois ele me disse que descobriu que sua mãe tinha um amante e o dinheiro que sumia era por conta disso.
Nessa época eu lia livros de literatura, poesias, romances, contos e filosofia aos montes. Comprava em sebos, trocava, ia em bibliotecas de faculdades e lia lá dentro, quando me deixavam entrar. Pegava livros emprestados e cheguei a criar um pequeno comércio de livros que me deu uma grana e exemplares muito importantes.
Também passei a escrever nessa época. Na verdade, os primeiros rabiscos apareceram de forma tímida aos doze anos, por causa de uma namoradinha, a Paola. Depois se aceleraram as escritas para outras garotas. Eu vivia namorando, mas parei de escrever.
RETOMANDO OS ESTUDOS
Em 1997, depois de muitos desentendimentos entre mim e minha namorada, mãe da minha filha, optei por desfazer o namoro e estudar, afinal, se seguisse nesse ritmo, não teria futuro algum.
De forma consciente dos sacrifícios que teria que fazer, pedi para minha mãe e avó segurarem minha barra até eu conseguir terminar o segundo grau e entrar numa universidade pública. Fui para o supletivo com bolsa de 50% graças à prova de bolsa e cursinho com bolsa de 70% no primeiro ano e 100% no segundo. Dinheiro para sair era zero, a menos que eu fizesse bicos e ganhasse algo ou economizasse com caronas e abrigos indo para os vestibulares.
Passei em duas federais, mas a conversa na hora de ir me convenceu a ficar em Santos e fazer farmácia, sem dinheiro e tendo que pagar pensão.
Com acesso à uma biblioteca maior e mais acesso à pessoas, corri atrás do prejuízo e fui estudar no Campus de comunicação social. Assisti aulas de sociologia, filosofia e antropologia. Lia livros importantes e ouvia professor, mas a farmácia me puxou para estudar e consegui um estágio. Estava no jogo, novamente.
Passei a escrever para descarregar o estresse e a ansiedade e parte do que tenho hoje já está escrito há mais de vinte anos.
Foi uma época de ouro para a economia de 2000 a 2010, aproximadamente, em que o pouco que ganhávamos rendia muito.
Fiz muitos estágios, muitos cursos, adquiri conhecimento, estive com gente que movimentava o clero, a cidade e o dinheiro. Usei 75% com estudos, livros com a atlética e com o centro acadêmico que não tinham dinheiro para nada. Uns 25% distribuí entre cerveja, alguns aditivos, jogos da faculdade e uma balada ou outra. Mas no terceiro e quarto anos o dinheiro não deu e entrei na inadimplência para pagar parte da faculdade. Foi difícil.
Terminei a graduação devendo muito, mas paguei cada centavo.
DO NAMORO AO CASAMENTO e ETC
Logo que saí da faculdade, consegui um emprego na madrugada e já parei de sair. Reduzi o cigarro em mais de 50%, bebia muito menos e guardava um trocado.
Comecei a namorar com a minha atual esposa em agosto de 2004 e um ano depois fomos morar juntos em São Paulo, mesmo ano que comecei a trabalhar com transportes. Nessa época me empenhei em estudar economia, finanças e orçamento. Consegui mais um emprego e multipliquei o dinheiro com muita facilidade.
Nos casamos em 2007 com carro, móveis novos e casamento 90% pago por nós, sem dever nada.
Em 2008 comecei a estudar Neurolinguística e nunca mais parei de atuar com essa área. Ajudava empresas e pessoas que me procuravam e entrei na equipe de treinamentos. Com a experiência em vendas e negociações, fui prestar consultorias e continuei me aperfeiçoando.
Já em 2010 minha esposa passou em um concurso e fomos morar em São José dos Campos. Lá empreendi em uma clínica com sócio e me arrependi do investimento. Pela primeira vez na vida empreendi com dinheiro e uma possibilidade enorme de dar certo, mas uma só andorinha não faz verão e me obriguei a desistir.
Fui estudar Administração na FGV e lá tive vontade de me graduar em psicologia, mas adiei por voltarmos para São Paulo e pela oportunidade de assumir a Diretoria do Sindicato dos Farmacêuticos.
CAMINHANDO NO DESERTO
Uma fase que vai de 2011 a 2016 eu me afastei de mim. Praticava da neurolinguística e o que aprendi com desenvolvimento pessoal para as empresas, de forma mecânica, e esqueci me mim, da minha saúde mental.
A entrada no campo da política me aproximou de um submundo que eu não queria viver, que me fez mal, mas eu acreditei que poderia ser diferente, afinal minha ideologia sempre foi a de ajudar as pessoas a terem boas vidas e evoluir.
Mas eu me perdi nessa aridez da vaidade, do poder e da política. Sinceramente, não gostei.
Na mesma época nasceu minha filha e optei por deixar o sindicato. Minha saída foi tumultuada. Cerca de três anos depois me chamaram para ajudar a resolver as bobagens que haviam feito e com a casa completamente desarrumada.
O lapso de tempo entre sair do sindicato e voltar me permitiu buscar ajuda profissional e conhecer um outro lado meu. A paixão pela psicologia se reacendeu, estudei muito. Abri e vendi duas empresas de transporte. Fui contratado para trabalhar com vendas. Veio a pandemia de COVID 19.
Nasce meu filho Mateus em 2021.
Também em 2021 fui contratado por uma empresa, cujo contrato, se tivesse sido cumprido, teria feito minha carreira decolar, como já vinha acontecendo.
Voltei a estudar, me especializei em gestão da qualidade e, enfim, em 2022 eu me matriculei na faculdade de psicologia e iniciei em Agosto, mas em setembro adoeci.
No hospital decidi que começaria esse lance de Instituto Ricardo Murça para ensinar as pessoas o autoconhecimento e propagar a importância do Desenvolvimento Pessoal, escrever, praticar a filosofia e treinar pessoas, além de levar uma palavra amiga e motivacional por meio de palestras.
Bem, estamos no caminho, tem dado certo, o negócio está crescendo e creio que em breve devo viver somente disso e busco uma forma de estudar e crescer na área da psicologia, me graduar e atuar como psicólogo-escritor. Enquanto isso, sigo transferindo para muita gente minha experiência que não é só empírica (a que eu vivi e experimentei), mas também a teórica, dos estudos e aquela experiência validada (teoria comprovada pela prática), afinal estou aqui vivo e estou ótimo.
Torçam por mim, por que eu torço pelo sucesso de cada um de vocês!
Grande abraço!