- Por que fugimos das responsabilidades?
Uma reflexão sobre autenticidade, liderança e o humano em tempos de apatia.
Vivemos tempos curiosos. Um e-mail não respondido, uma tarefa repassada, uma mensagem visualizada, mas ignorada.
A rede social que outrora nos exibia mundo afora virou um instrumento de controle alheio e… Bem, melhor fugir do que assumir o que fiz, quem não convidei.
Na dúvida, não posto nada ou apenas coisas, assim, neutras.
Pequenos atos que, somados, pintam um quadro de alienação: fugimos da responsabilidade.
Seja por medo de errar, de não agradar, ter que dizer não, magoar ou de, simplesmente, assumir o que somos. Mas o que significa não assumir responsabilidades? E, mais importante: o que estamos perdendo quando o fazemos?
O que diz a filosofia?
- Na fenomenologia, Edmund Husserl nos lembra que a consciência é intencional: estamos sempre em relação com algo ou alguém. Ignorar um compromisso ou fugir de uma conversa difícil é negar essa relação. É como se disséssemos: “Prefiro não me ver no espelho das minhas ações.” Mas viver assim é perder a oportunidade de realmente existir. Como assim?
- Heidegger chamou essa desconexão de “inautenticidade”. Para ele, somos frequentemente levados pelo “se impessoal” — aquele “se” que usamos para justificar nossas fugas: “alguém vai fazer”, “não é minha função”, “nem é tão grave assim”, “só visualizei hoje”, “mandei para o jurídico analisar”. Quando nos deixamos levar por esse “se”, deixamos de ser protagonistas e nos tornamos figurantes de nossa própria vida. Isso parece absurdo.
- Albert Camus, por sua vez, nos apresenta o absurdo: a contradição entre nosso desejo por sentido e a indiferença do universo. Sua resposta? Rebeldia. Viver, para Camus, é assumir nossa liberdade com coragem, ainda que o mundo pareça indiferente. Ao evitarmos responsabilidades, escolhemos a apatia, não a revolta.
E essa apatia é visível.
Ao ignorarmos um e-mail, delegamos a outro o papel de resolver algo que nos caberia.
Se empurramos responsabilidades, perdemos a chance de liderar e transformar. Quando nos eximimos de culpa ou nos negamos a reconhecer erros e medos, deixamos de crescer. E, ao permanecemos indiferentes às injustiças sociais, colaboramos com a manutenção do status quo.
E como é difícil nos mostrarmos ao mundo, com nossas falhas e correr o risco de perdermos nosso “status”
Viver é difícil mesmo e, quando nos deparamos com essa responsabilidade de “ser no mundo” ou o Daisen de Husserl, ficamos atônitos, temos medo e, as vezes, fugimos das pessoas, as tratamos mal, com indiferença ou com poucas palavras.
Responsabilidade, afinal, não é um peso. É um convite. É o que nos torna humanos: capazes de escolher, agir e, principalmente, mudar.
Camus escreveu: “A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.”
Talvez o primeiro passo seja parar de fugir.
Seja responder àquela mensagem.
Assumir aquela tarefa ou simplesmente olhar para si mesmo e dizer: “Eu posso fazer melhor.”
Então, você aceita o convite?
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