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CONTOS URBANOS II – TRECHO DO LIVRO

Cópia de AUTOCONHECIMENTO

CONTOS URBANOS II – TRECHO DO LIVRO


Carol


― Caraio, que susto, seu viado!
― Que porra…
Essa foi a forma que Paulinho usou para mostrar seu susto e espanto frente ao que presenciou, mas comecei mal a história e vou explicar.
Paulinho, estudante de direito, 21 anos, estava em seu apartamento, em Santos, no bairro da Encruzilhada, lendo um texto de filosofia de Egel, para exercício que valeria um ponto na prova, com a televisão ligada bem baixinho quando seu colega de casa, Diego, entra pela porta do apartamento como se estivesse com diarreia.
A maçaneta da porta bate na parede lateral da sala e arranca um chamboque de tinta e reboco, fazendo um estrondo que tirou Paulinho do sofá e o compeliu a soltar a doce frase:
― Caraio, que susto, seu viado!
Ao olhar o estado do amigo, baixou os papeis e soltou a outra frase:
― Que porra…

Era o máximo que se podia falar sobre um – homem – bêbado às dezesseis horas de uma quinta-feira, chorando, nariz escorrendo e nas mãos uma sacola rasgada cheia de tranqueiras e com coisas caindo pelo caminho.
Paulinho que era um cara tranquilo ficou parado, só observando seu colega ir ao quarto, pegar o travesseiro e ir para a varanda, se debruçar no parapeito e chorar copiosamente, como uma criança da qual a mãe tirou o carrinho ou bateu, a criança com sono, fome e manha ao mesmo tempo.
― Velho, o que houve, pelo amor de Deus? Perguntou o mais sóbrio da dupla.
― Eu sou um merda mesmo, disse Diego.
― Isso eu sei, mas o que eu não sei é que quero saber, ironizou Paulinho.
― Cacete, eu ferrado e tú me zoando?
― É sério, foi só pra descontrair, se desculpou o amigo.
Amigo bom é assim, se não caga na sua cabeça enquanto você está mal e perdido, não serve. Gente pra dar tapinha nas costas tem um monte.

― A Carol, véi, disse Diego, que abaixou a cabeça e elidiu novo choro.
― Que tem ela? Na verdade, ela de novo? Tu não desiste? Pontuou Paulinho, já meio indignado.
― Cara, eu amo essa mina.
― Cara, eu não duvido, o problema é que ela é gostosa e tem uma pá de malandro em cima e, em segundo, que ela é interesseira, uma mina que não te serve, tu é um cara bacana, inteligente e ela curte os maromba, cabeça oca. Tá ligado nisso! Disse Paulinho, colocando as cartas na mesa.
― Mas conta aí o que aconteceu pra tu ficar nesse estado?
― Ficamos sabendo pela galera da farmácia que ia ter uma feira lá de remédio no Centro de CoNvenções lá da Francisco Glicério e fomos lá por que dão chopp de graça e tem as mina dos estandes embaladas a vácuo. Cheguei lá, tava de boa com a galera dando rolê e me chega a Carol, toda feliz, gatinha e gritando meu nome. Levantou minha moral com os caras. E ela tava toda solícita, me abraçou, me deu o braço e ela tava muito cheirosa, completou Diego já meio que rindo com o amigo…
― É, a Carol é gata mesmo, reafirmou Paulinho.

― Aí eu já tinha tomado umas três canecas de chopp, ela desfilando comigo, eu tomando mais umas, ela parava nos estandes de perfume e me fazia sentir o cheiro dos perfumes e perguntava qual eu mais gostava. Eu escolhia e ela pegava de brinde os que eu havia falado.
― Aí…
― Aí, velho, eu já comecei a me imaginar dando um rango na mina, aí o meninão deu uma que ia acordar…
Os amigos riram alto juntos. Mas Diego seguiu
― E eu, malandramente, pensei: bom, vou dar uma birita pra ela ficar mais de boas e eu pah!
― Saquei! Emendou Paulinho para que o amigo continuasse.
― Aí falei pra irmos no estande de uma indústria que patrocina a Stock Car que lá tem o melhor chopp gelado, brindes, só que é meio cheio e ela topou, disse que estava com sede, completou Diego contando alegremente a parte animada.
― Aí, brother, tudo correndo bem… disse Diego com o queixo já tremendo e levantando para chorar.
― Indo tudo bem e eu falei pra ela que ia pegar uma caneca pra cada um de nós e entrei numa puta fila. A mina ficou ali e talz e quando faltava três na minha frente, percebi que um dos pilotos ou ator que tava se fazendo de piloto tava ali com ela conversando e ela já se empinando pro cara, olhou pro lado e apontou.
― Pra você? Perguntou Paulinho.
―Eu achei que sim, mas era para o chopp e o malando, na minha vez, furou minha frente, pegou uma caneca e levou pra ela.
― Cacete, cara… e aí?
― E aí que eu ali já tava puto, mas ainda fui do lado dela, chamei ela e entreguei a caneca dela e ela gritou: não tá vendo que eu já tenho? E olhou pro cara e deu uma puta gargalhada.
― É foda!
― Foda foi a minha situação. E começou novamente a chorar.
― Mano, joguei a caneca no chão, espirrou chopp num monte de gente. Tomei a outra toda num gole só e comecei a chorar ajoelhado no chão. Já tava doidão e aí um segurança me jogou pra fora. E foi isso, finalizou Diego.
― Cara, o que eu tinha que falar eu já falei, infelizmente, disse Paulinho.

― Mano, não fala nada, me dá um abraço?
― Mas nem por uma xereca, vai se catar!

  

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